Em 2017, a Netflix publicou na sua conta do Twitter: “Amar é compartilhar uma senha”. Porém, no final do ano passado, a gigante do streaming anunciou algo contrário a esse lema. Isso porque, ainda no começo de 2023, a empresa irá combater ativamente o compartilhamento de senhas em escala global – e a América Latina já está passando por testes.
Meu, seu, nosso
Quando a Netflix explodiu como sensação mundial o seu principal atrativo eram os preços acessíveis e a entusiasmante possibilidade de compartilhar senhas, o que certamente influenciou bastante na popularidade da plataforma.
Falar de senhas, contudo, pode ser um assunto delicado, afinal, envolve privacidade. Além disso, quanto mais se compartilha, mais pode-se ter problemas com acesso. Uma pesquisa divulgada recentemente, a qual contou com entrevistados de diversos países, mostrou que redefinir senhas é o segundo maior motivo de frustração cotidiana das pessoas, logo após a internet lenta. Mas, se pode dar trabalho, por que então tanta gente vê vantagem em compartilhar sua conta da Netflix?
O crescimento da Netflix
Para compreender a força do compartilhamento de senhas da Netflix, é preciso voltar um pouco no tempo e compreender a sua história. A empresa foi criada em 1997 e seu boom era improvável. Num momento em que a Blockbuster dominava o ramo, a Netflix surgia humildemente como serviço online de aluguel e compra de DVDs. Era algo inédito: os clientes montavam online suas listas e recebiam os produtos via correio. Assinaturas mensais permitiam ficar com os filmes por tempo indeterminado até que pedissem outro filme. E a cereja do bolo que enfureceu a Blockbuster: a abolição de multas.
Apenas 10 anos depois, a Netflix lançou-se como plataforma de streaming. Era um cenário propício, pois 70% das pessoas nos EUA já tinham acesso à internet em casa. Esse mercado ainda estava em seu início e a Netflix foi a primeira a se lançar, abrindo espaço para a chegada de novas plataformas.
Para uma empresa que começou sem emitir multas e que vinha se popularizando, não é de surpreender que o compartilhamento de senhas viria como uma grande jogada de marketing. Até 2012, a Netflix já estava em mercados da América Latina e da Europa. Daí para frente foi mais conteúdo e produções exclusivas.
Chegamos então em 2020, em que 73% dos internautas afirmaram terem aumentado seu consumo de streaming. Porém, a concorrência também aumentou. Por mais atrasadas que algumas estivessem, as maiores usam conteúdos que podem ser explorados por muito tempo pelos usuários, como é o caso do Disney+, que adquiriu os direitos de Star Wars. Outros títulos, até então de propriedade da Netflix, foram retirados e incorporados a esses competidores, tornando as coisas mais complexas para a gigante do streaming.
Atualmente
A mudança de sua posição no mercado fez com que a empresa repensasse sua estratégia. A estimativa é que existam 100 milhões de usuários com senhas compartilhadas. A Netflix pretende introduzir um aviso para que um valor extra seja pago pelos assinantes adeptos dessa prática.
A empresa sabe que a decisão será impopular, mas segue em frente. Havia expectativas de que a Netflix se apoiaria em seu departamento de publicidade, com a garantia de cerca de US$3,2 bilhões de receita anual, mas a gigante não está conseguindo entregar o volume de anúncios acordados e, por isso, está devolvendo dinheiro. Executivos da empresa dizem que, com ajustes, o plano ainda pode funcionar. Porém, com ou sem ele, adeus às senhas compartilhadas.