Desde o início de 3%, Michele sempre foi obstinada em construir um mundo justo. Para isso, desde sua infância foi treinada e manipulada pela Causa para sabotar o processo imposto pelo Maralto. No segundo ano, jurou que ao lado de Fernando seria capaz de construir uma alternativa para aqueles que quisessem fugir do sistema e viver longe da miséria do Continente.
A terceira temporada da série começa mostrando a perfeição da Concha. Um local seguro, autossuficiente e pacífico, em que Michele (Bianca Comparato) tem orgulho de liderar. E o principal: todos são bem-vindos sem nenhum tipo de processo. É claro que a alegria dura pouco e uma chuva de areia acaba com a fonte capaz de fornecer subsistência ao local.
Sendo assim, nada mais óbvio que a protagonista ser forçada a fazer uma seleção para diminuir o número de habitantes da Concha. E lá vamos nós para um novo processo, em que nem sempre a decisão mais justa é tomada.
Confira entrevista com o elenco de 3%
A série apresentou um roteiro mais dinâmico e obscuro para uma série de ficção cientifica. A grande questão envolta da trama é que apesar da história ser pautada em uma segregação por merecimento, o processo tornou-se cansativo. Há três anos, o público assiste à personagens desesperados decidindo suas vidas em provas, que vão de montar um cubo mágico a sair de uma sala de olhos vendados.
Este ano, o seriado deixou margens para que o programa aborde a distopia em um novo patamar. É interessante ver como uma pessoa que sempre buscou justiça se comporta em uma posição de poder. Michele, de certa forma, tornou-se Ezequiel. Outro ponto é perceber como Gloria reage com fanatismo diante de ser preterida e expulsa da Concha.
3% abandonou – sem piedade – um de seus personagens mais importantes até então. Fernando (Michel Gomes) foi morto tentando recrutar pessoas para o “novo paraíso”. Apesar de ter sido constantemente mencionado durante os episódios, sua morte foi pouco explorada.
Mais uma vez, o destaque ficou por conta da atuação Vaneza Oliveira. Joana mostra todo empoderamento feminino de uma mulher negra e miserável que questiona a sociedade em que esta inserida. E mais do que isso: consegue ver a os valores de Michele serem corrompidos pelo seu próprio idealismo.
Para que 3% se torne menos previsível e repetitivo é necessário que a trama sofra um reboot. Todos os elementos da construção desta sociedade já foram apresentados. Além disso, o desfecho da série aponta para uma grande revolução contra o Maralto. Agora, o espectador espera por uma renovação. Por favor, não nos decepcione.