Recém disponibizado pela Netflix, o quarto ano de Black Mirror ganhou notoriedade por não apresentar narrativas perturbadoras ou com entrelinhas políticas, mas por realizar uma paródia sarcástica e manter tramas que despertem a reflexão sobre o uso da tecnologia e a evolução da sociedade. Talvez, os espectadores esperassem tramas mais contuntendete pelo alto padrão que a série estabeleceu, ao produzir obras-primas como The National Anthem (o polêmico episódio do porco), Shut Up and Dance e Hated in the Nation. A sensação é que a quarta temporada trouxe inquietudes, no entanto deixou a desejar no quesito perplexidade.
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USS Callister
Talvez Star Trek nunca tenha recebido uma homenagem tão ironica quanto USS Calister. No capítulo, um programador chamado Robert Daly cria uma realidade virtual baseada em seu seriado de TV favorito – Frota Espacial – e usa o DNA de seus colegas de trabalho para duplica-los no mundo online. O objetivo é humilhá-los por algo que eles tenham feito na realidade. Com a chegada de Nanette Cole, o grupo planeja uma maneira de se rebelar
Claramente, Robert deseja encarnar a persona do Capitão Kirk, um homem digno, que possui uma liderança nata, é amado por todos e admirado pela mulheres. Porém, ao longo do episódio, ele se revela um vilão sem escrúpulos e sede lugar para que Nanette se transforme na nova capitã. Sem dúvida alguma, essa é a história mais divertida da temporada e sua popularidade fez com que os criadores do programa pensassem na ideia de um spin-off.
Arkangel
A diretora Jodie Foster levantou a questão sobre o limite do controle e da privacidade entre pais e filhos. Depois de perder sua filha em um parque, Marie decide colocar um chip na menina para localizá-la com mais facilidade. Além disso, a mãe visualiza tudo o que menina enxerga, consegue proibí-la de ver certos conteúdos e deleta experiências traumáticas.
Na infância de Sara isso se torna muito útil, pois a menina é poupada de cenas de violência e até ajuda a salvar seu avô de um infarto. Porém, com o passar do tempo, o chip cria uma obsessão por controle na mãe e a medida que Sara cresce seu desejo por liberdade se torna insaciável, ao ponto de uma ruptura drástica. O capítulo se torna ainda mais válido se pensarmos que atualmente os pais desvendam a localização de seus filhos por telefones ou tablets. Qual é o ponto saudável nessa relação?
Hang The DJ
Coube ao capítulo Hang The DJ ser a história romântica da temporada. Apesar de ter agradado bastante o público, ele deixa a desejar para o parâmetro das boas histórias e da qualidade de Black Mirror, principalmente se for comparado à San Junipero ( 3ª temporada).
Na trama, Amy (Georgina Campbell) e Frank (Joe Cole) experimentam um sistema de encontros românticos que controla o tempo de suas relações e escolhe os seus parceiros de acordo com as suas preferências e compatibilidades. Depois de se apaixorem, eles decidem se rebelar contra a situação. O episódio dá uma sensação de inquietude no espectador pelo fato de que os personagens são anulados nas escolhas sobre as suas vidas sexuais e amorosas. Ao mesmo tempo, eles mostram uma sensação de liberdade diante da pressão pela busca do parceiro ideal e da certeza de ninguém ficará sozinho para sempre.
Crocodile
É um belissímo e impactante exemplo de como a tecnologia pode ser usada para solucionar casos criminais e, de certa forma, acabar com a vida dos seres humanos inocentes. Mia ajuda o namorado a encobrir um assassinato e anos depois ele a ameaça dizendo que revelará toda a verdade. Para proteger sua familia, ela decide matá-lo.
Porém, quando uma agente de seguros utiliza uma máquina capaz de reproduzir memórias para investigar casos criminais, ela se torna a próxima vítima de Mia. Com muita crueldade, a protagonista é capaz de eliminar pessoas que tenham lembranças que possam incriminá-la. Apesar a história não ser considerada inovadora no mundo da ficção, o desfecho chega ser inusitado. Por mais que Mia tenha tido a coragem de tirar a vida de um bebê que poderia relatar seus passos, quem diria que a memória de uma chicila seria responsável por denunciá-la…
Metalhead
Exibido em preto e branco, Metalhead é a história mais agonizante do ano. Sem mostrar muitas explicações, a história acompanha a tentativa de fuga de uma mulher, que tenta de todas as maneiras escapar de um “cachorro de caça de metal”. A narrativa é intrigante porque é desconhecida a origem da personagem e suas intenções na trama. Ao mesmo tempo, não se sabe se o cão de guarda é um vilão ou se ele tenta defender o território de uma grande ameaça.
Talvez, o intuito do episódio seja abordar uma disputa entre os seres humanos e o desenvolvimento das máquinas, em que os espectadores ainda tenha mais misericórdia e empatia pela humanidade.
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Black Museum
Para encerrar, Black Museum apresentou uma pitoresca trama em que uma jovem, chamada Nish (Letitia Wright), que visita um sinistro museu. Seu curador narra três histórias em que a teconologia destruiu, miseralvelmente, a vida de alguns seres humanos. O que o dono do local não imagina é que Nish planejou uma vigança contra sua mente doentia e seu sadismo.
No final, a trama adquire um tom feminista ao ver que Nish fez a voz de sua mãe ser ouvida e salvou a injutiçada alma de uma mulher que vivia dentro de um urso de pelúcia. Com ares de rebeldia, a protagonista avança por uma estrada desconhecida deixando o amaldiçoado passado em chamas.