Conhecida no Brasil como Contos da Cripta (Tales from the Crypt, título original), a série de terror exibida originalmente entre 1989 e 1996 é um marco na televisão. Com sua mistura irresistível de humor ácido, suspense e horror gráfico, a produção da HBO se tornou uma das precursoras do gênero de antologia de terror na TV e é lembrada com carinho e calafrios até hoje.
Mas para além do anfitrião irreverente, o Guardião da Cripta, e do elenco estelar rotativo (que incluía nomes como Brad Pitt, Demi Moore e Arnold Schwarzenegger), a essência de seu sucesso reside em suas narrativas macabras. A grande questão é: de onde vieram essas histórias assustadoras?
O berço do terror: a era de ouro da EC Comics
As histórias para o aclamado seriado surgiram diretamente das páginas de histórias em quadrinhos publicadas nos Estados Unidos na década de 1950. A série Contos da Cripta foi inspirada nas graphic novels da EC Comics (Entertaining Comics), uma editora lendária que revolucionou o gênero.
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A EC Comics publicou uma série de títulos de terror e suspense que se tornaram ícones, sendo os mais famosos: Tales from the Crypt (1950–1955), The Vault of Horror (1950–1955) e The Haunt of Fear (1950–1954).
Esses quadrinhos eram notórios por seu conteúdo chocante e sua abordagem moralista do terror, em que a justiça macabra era sempre servida. Na maioria das tramas, personagens egoístas, gananciosos ou infiéis cometiam crimes e, invariavelmente, eram punidos com destinos horríveis e irônicos. É essa fórmula de “crime e castigo” exagerado que a série de TV transportou com maestria.
O famoso apresentador da série, o Guardião da Cripta, e seus colegas macabros, o Guardião do Cofre e a Velha Bruxa, também são personagens originais das HQs da EC Comics, introduzindo cada história com trocadilhos mórbidos.
A adaptação para a TV

A série da HBO Contos da Cripta foi uma empreitada ambiciosa, produzida por nomes de peso como Robert Zemeckis, Walter Hill, David Giler, Richard Donner e Joel Silver. O objetivo era recriar a atmosfera sombria e o charme pulp dos quadrinhos, aproveitando a liberdade criativa que a televisão a cabo oferecia (algo que as HQs originais não tinham, sendo alvo de censura nos anos 50).
Ao todo, foram produzidos 93 episódios durante as sete temporadas da série. Quase todas as narrativas adaptadas tiveram uma ligação direta com as histórias publicadas nos quadrinhos da EC Comics. Apenas um episódio, o último da sétima temporada, The Assassin, foi o único a ter um roteiro original sem a base nas HQs.
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Exibição no Brasil: Fox, Multishow e Bandeirantes
No Brasil, Contos da Cripta cativou uma legião de fãs, sendo um título recorrente em diversos canais. A série ganhou espaço na programação nacional inicialmente por canais pagos como a Fox e o Multishow, onde se tornou um sucesso cult.
Posteriormente, a série chegou à TV aberta pela Rede Bandeirantes, atingindo um público ainda maior e consolidando sua reputação de terror que divertia e chocava ao mesmo tempo.
E a tentativa de reviver Contos da Cripta?
Com o sucesso nostálgico da série, uma tentativa de reboot moderno chegou a ser anunciada em 2016, com o cineasta M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido) atrelado ao projeto como produtor e curador para o canal TNT. A ideia era misturar releituras de contos clássicos e histórias originais, prometendo reacender o terror na televisão. Contudo, o projeto foi oficialmente cancelado em 2017.
O motivo principal para a paralisação foi a intrincada “bagunça legal” envolvendo os direitos autorais da franquia, especialmente os direitos do popular Guardião da Cripta, cuja versão icônica de marionete era de propriedade da HBO. A dificuldade em resolver essa teia de licenças colocou um ponto final ou, pelo menos, um longo adiamento na esperança de um retorno do clássico antológico.
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Assim, os contos originalmente criados nas páginas dos quadrinhos de horror nos anos 50 encontraram um novo e duradouro lar na televisão, garantindo que o Guardião da Cripta continuasse a contar suas histórias macabras por muitas gerações.