O canal HBO transmite a primeira temporada da série His Dark Materials. O projeto é a nova versão para o clássico escrito por Philip Pullman, Bússola de Ouro.
Na história, uma jovem órfão, Lyra Belacqua (Dafne Keen), busca por um amigo que está desaparecido. Com habilidades que ainda desconhece, a protagonista acaba se envolvendo em uma trama sinistra envolvendo crianças roubadas e um fenômeno misterioso chamado “Poeira”.
O Pop Séries conversou com a atriz Anne-Marie Duff, a integrante de uma comunidade conhecida como “Gyptians”, que enfrenta o sumiço misterioso de um de seus filhos. E, assim como Lyra, inicia uma busca por respostas.
Trailer de ‘His Dark Materials’ apresenta Lyra, personagem interpretada por Dafne Keen
Confira o bate-papo:
POP SÉRIES – Quem é a Ma Costa?
ANNE MARIE DUFF – Dentro do universo dos livros, o Philip Pullman criou esse mundo tribal, em que há facções diferentes. Uma delas obviamente é a da Lyra dentro da universidade com todos os acadêmicos e membros do Magistério. Existe outro grupo, muito cool, chamado “Gyptians”, que é uma mistura de viajantes, ciganos e refugiados (boat people). Há uma mistura de pessoas realmente interessantes e um pouco exóticas que estão em movimento constante. Elas são um pouco selvagens, excitantes, sexies, perigosas, de temperamento e sangue quentes. A minha personagem é a Ma Costa, a matriarca desse grupo. Ela é genial. Nos livros ela é descrita como dona de pulmões de ferro, porque é ardente e mal-humorada. Uma verdadeira leoa que protege a sua cria. É melhor não se meter com ela.
* Como a Ma Costa entra na história?
AMD – No início infelizmente o filho mais novo da Ma Costa, o Billy, desaparece. Este é o problema no começo da história: muitas crianças estão desaparecendo, e ele foi uma delas. No princípio, todos estávamos em estado de negação porque ele poderia ter ido embora quando não estávamos olhando. Mas de repente nos demos conta de que esse era o maior medo de todos os pais: que as nossas crianças sumissem. Não foi difícil interpretar esse drama. Ela lida com isso. As apostas são incrivelmente altas desde a primeira cena da Ma Costa. É o que ela está enfrentando. É interessante porque não há muitos personagens femininos nos livros dele [Pullman], é uma sociedade patriarcal. Mas a protagonista é mulher, o que é extraordinário. A Lyra e a Ma Costa vivem a perda e a solidão. Eu acho que é isso que as une.
* Como você se envolveu com a história e quis fazer o papel?
AMD – Eu li os livros há uns 15 ou 16 anos. Adorei e li literalmente várias vezes. Acho que foi no início de 2018 que soube que o Tom [Hooper] ia dirigir a primeira parte e queria falar comigo. Ele me contou que eles queriam que eu fizesse a Ma Costa. Antes de mais nada, fiquei muito empolgada com o que eles estavam fazendo. Quando eu soube que o Jack Thorne estava escrevendo a adaptação, sabia que ficaria muito bom – ele é brilhante e muito criativo. Foi o meu instinto. Também disseram que seriam muitos episódios, só para o primeiro livro. Eles estavam respeitando o material original. Às vezes os criadores tentam condensar um grande livro em três horas, e ali isso não era possível. Para funcionar você precisa criar o ambiente. Eu sabia que estava sendo feito assim. Tudo isso me fez pensar que seria emocionante. Então eu conversei com o Tom, fizemos algumas leituras e pronto. Imagino que todo mundo vai dizer isso, mas foi uma decisão fácil.
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* Uma das grandes coisas destes livros é que nunca são condescendentes com as crianças, nem passam a mão na cabeça delas…
AMD – São livros altamente sofisticados, essa é a questão: eles quiseram criar esse universo paralelo cheio de magia e sombras, sem “furos”. A adaptação precisava ter um elemento que apostasse alto, o que é assustador. Você está dentro de uma cabeça de 12 anos porque esse é o momento na vida em que se está lidando com um monte de coisas em termos de emoção, psicologia, filosofia. A noção de mortalidade começa a ser concreta, todas essas coisas realmente começam a surgir nessa fase, pouco antes de você se tornar adolescente e muito mais individual. É realmente interessante. A pessoa está recebendo muita informação. Esta é a questão do reino, de criar esse mundo no qual se acredita que qualquer coisa pode acontecer com essa pessoa jovem, e tem também os “daemons” e todas essas coisas mágicas fantásticas que tornam tudo muito carismático.
* Como a série dá vida à magia, aos daemons?
AMD – Eles foram muito inteligentes. Eu nunca tinha feito nada com efeitos de computação nem tela verde. Não tinha ideia de como ficaria, mas desde o primeiro dia dos ensaios havia marionetes com os “daemons” animais de todos os personagens. Eles estavam no set com a gente, então fizeram vários ensaios de cada cena. Sempre ensaiávamos com animais, principalmente com o “daemon” da Lyra, porque o Pan é uma espécie de personagem-chave: todos temos que adorar tanto o Pan como a Lyra. Ensaiávamos com eles e sem eles, só por praticidade. Depois filmávamos uma versão com o boneco e outra sem ele, assim depois na pós-produção os animais eram inseridos. Rapidamente aprendemos vários aspectos práticos, como o tamanho do animal, o peso e a linha dos olhos. Sentimos que ele está no espaço e isso afeta tudo. Nos poupa de ficar imaginando e tudo parece real.
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* Isso atrapalha a interpretação?
AMD – Depende. Às vezes é um pequeno desafio, porque você precisa se lembrar dos “daemons” e de onde eles estão, e não são animais de estimação. Outras vezes pode esquecê-los porque eles podem expressar o que você está escondendo. Isso é ótimo: eles são um acesso incrível à sua cabeça – e inteligente.
* Quem é o “daemon” da Ma Costa?
AMD – Eu tenho uma ave de rapina. Um bonito e grande pássaro preto. Muitos dos “Gyptians” têm pássaros – salvo o Farder Coram, que tem um gato grande. Eu tenho esse açor maravilhoso, chamado Jal. Ele é brilhante. O Jal é uma espécie de circuito fechado de TV dela, porque a Ma Costa está na água e o pássaro está no alto tomando conta. Com a tela verde você tem certeza de que está sentindo o peso dele. Então, quando eles tiram o boneco, fica verossímil. A relação com um pássaro é muito diferente da que você teria com um cachorro como “daemon”. É muito interessante porque a energia é mais fria, mas mesmo assim você sente a energia do pássaro em você. Eu sei que soa engraçado.
* Você refletiu sozinha ou com o elenco sobre qual seria o seu “daemon”?
AMD – Eu acho que todo mundo que lê os livros pensa nisso. Mas assim como nos livros, os “daemons” não são necessariamente o que você esperava. Se você não tivesse lido os livros e não soubesse que a Mrs. Coulter tinha um macaco, poderia ter pensado que era uma pantera ou uma cobra, por exemplo. Mas a mente do [Pullman] como contador de histórias é assim, e isso é brilhante. Eu tenho certeza de que o Jack se divertiu muito com isso quando estava escrevendo.
* O que você decidiu que o seu “daemon” seria?
AMD – Não posso dizer. Por algum motivo estranho eu acho que isso é muito pessoal. Seria como alguém olhando as suas gavetas.
* Você nunca tinha feito alta fantasia. É diferente fazer uma série que envolve o sobrenatural?
AMD – Não é um trabalho como qualquer outro. É muito divertido, principalmente ver todas as áreas florescendo e gostando disso. O designer de produção é incrível, assim como a atenção dada a cada detalhe de tudo. Eles puderam criar o que quiseram, sem virar pantomima. Isso é ainda mais engraçado de certa forma. Em geral quando você mexe com coisas com altos riscos e emoções reais, você fica encurralado. Mas nós, não. Estávamos nesse mundo mágico e é maravilhoso porque você traz o mesmo nível de coerência para algo que não é naturista. Eu acho que isso me mostrou que atualmente não importa onde você está: uma história continua sendo uma história e deve ser contada. Mesmo que haja “daemons”, você sente que pode ser onde você mora quando lê os livros ou, assim espero, quando você vir a nossa série extraordinária.