A mais recente adaptação cinematográfica de um best-seller de Colleen Hoover, Se Não Fosse Você, chega aos cinemas prometendo a carga emocional intensa. Com a direção de Josh Boone (A Culpa É das Estrelas) e a própria autora como produtora executiva, o filme, estrelado por Allison Williams e Mckenna Grace, mergulha na dor de Morgan Grant e sua filha Clara após um acidente devastador que expõe uma traição chocante. A premissa do amor florescendo em meio ao luto e à necessidade de reconstrução familiar tem um potencial dramático. No entanto, o resultado final é um drama que, apesar de tocar em feridas profundas, peca por uma superficialidade frustrante no desenvolvimento de seus pilares emocionais, principalmente a jornada de autoaceitação de sua protagonista.
O filme acerta ao ambientar o espectador imediatamente na atmosfera de desamparo e raiva que permeia a relação de Morgan e Clara. A tragédia não é apenas a perda, mas a revelação de que a vida que Morgan acreditava ter era uma farsa. A história, nesse sentido, é interessante e cheia de ganchos emocionais. O problema está em como essa complexidade é tratada.
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Morgan Grant, interpretada por Allison Williams, é a figura central do luto e da reinvenção. Ela precisa aceitar o fim de seu casamento, a perda de sua irmã (que estava ligada ao marido traidor) e, ao mesmo tempo, lidar com o crescimento da filha, Clara, em meio ao caos. O filme oferece vislumbres da confusão e da dificuldade de Morgan em se encontrar e se perdoar, mas nunca se aprofunda de forma satisfatória em sua jornada de autoaceitação. Sua dor é frequentemente usada como um trampolim para o drama com a filha ou para o novo romance, deixando o seu crescimento pessoal em segundo plano.
O roteiro parece mais preocupado em costurar os eventos do livro de forma apressada do que em permitir que os personagens respirem e amadureçam em tela. A superação dos traumas e a redescoberta da felicidade parecem acontecer de maneira um tanto superficial. Allison tenta entregar uma performance com conexão, mas a falta de material aprofundado a restringe a explosões de emoção pontuais durante o longa-metragem (o que é uma pena).
Se Não Fosse Você VS. É Assim Que Acaba
É também inevitável não fazer um paralelo com a polêmica produção da outra adaptação da autora: É Assim Que Acaba. Enquanto Se Não Fosse Você luta com o desenvolvimento de sua protagonista, os bastidores de seu antecessor foram marcados por rumores de conflitos criativos e tensão entre a atriz e produtora Blake Lively (Lily) e o ator e diretor Justin Baldoni (Ryle). Relatos de desentendimentos na pós-produção e a versão final do filme sendo defendida por Lively, em contraposição a Baldoni, indicaram uma disputa por controle criativo para honrar a seriedade do tema.
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Em Se Não Fosse Você, a impressão é de que, para evitar o conflito, a produção optou por um caminho mais seguro e, paradoxalmente, menos impactante. A direção de Josh Boone, conhecida por dramas adolescentes açucarados, não consegue injetar a carga necessária para fazer o público sentir o peso do luto e da traição na mesma medida em que Morgan e Clara deveriam sentir.
O filme, com certeza, será assistido por diversos fãs da autora, atraídos pela temática de amor e superação. A história é comovente em sua essência, mas a adaptação falha em dar o espaço e o tempo que Morgan Grant merecia para se transformar de uma vítima de circunstâncias em uma mulher que se reconstrói. A jornada de autoaceitação fica engavetada, o que enfraquece o impacto final da narrativa.
Amores Materialistas: filme tem trama previsível, mas encanta com escolha do elenco
No fim das contas, a mais recente adaptação de Colleen Hoover é uma oportunidade perdida de transcender o melodrama e entregar um drama verdadeiramente profundo sobre o perdão e o recomeço.
