Produções ajudaram a construir a imagem da mulher independente da década de 1970
Como surgiram as heroínas da TV? Os acontecimentos políticos e sociais ocorridos no mundo na década de 1960 contribuíram para que a ideia do sonho americano chegasse ao fim. A guerra do Vietnã, a corrida espacial, a idéia do amor livre e o feminismo foram responsáveis pela imersão de um novo comportamento na sociedade americana da década 1970. Na televisão, a mudança foi pautada pela perda da inocência. Seriados como A Feiticeira, com humor inocente, foram substituídos por produções com conteúdos mais críticos e ácidos, dispostas a debater questões da atualidade.
Com o feminismo e o novo papel da mulher independente, o número de seriados estrelados por personagens femininas aumentou. Agora elas interpretavam mulheres inteligentes, bonitas e responsáveis pelo próprio rumo de suas vidas. Enfim, a época da dona de casa submissa ao marido havia acabado.
A Mulher Biônica
A série originou-se de dois episódios do seriado O Homem de Seis Bilhões de Dólares. Jamie Sommers era a namorada de infância e noiva de Steve Austin. Após um acidente de pára-quedas é internada e tem seus membros substituídos por partes biônicas. A experiência não é bem sucedida e Jamie morre no segundo capítulo.
A história de amor e o carisma da atriz Lindsay Wagner contribuíram para que o público não acreditasse na morte de Jamie. Surgiu então, o seriado da Mulher Biônica. A personagem tornou-se professora de crianças na base aérea de Ventura, na Califórnia. Secretamente, trabalhava como agente especial contra a espionagem internacional. Aqui ela se tornou uma das heroínas da TV mais reconhecidas.
Durante as três temporadas Jamie questionou sua situação como uma mulher biônica, seus relacionamentos amorosos e familiares e sua necessidade de manter uma identidade dupla. No último episódio da série, a personagem decidiu pedir demissão do serviço secreto e passou a ser perseguida. A solução foi um acordo em que a Mulher Biônica deu as cartas: ela continuaria a ser agente secreta, mas teria mais liberdade e tempo para a sua vida pessoal. Com esse desfecho, Jamie reproduziu o anseio de uma geração de mulheres pós 1970, dividida entre o trabalho e a família.
Jeannie é um Gênio
Jeannie é um Gênio foi uma série de televisão muito popular que foi transmitida de 1965 a 1970. A história girava em torno de um astronauta da NASA que acidentalmente liberta uma bela moça chamada Jeannie, que é um gênio da lâmpada. A série teve grande sucesso tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil e contou com um elenco carismático.
A personagem principal, Jeannie, era interpretada por Barbara Eden, que se tornou uma figura icônica por esse papel. Barbara Eden continuou sua carreira após o término da série, participando de várias produções para a televisão, incluindo filmes e séries. Ela recebeu duas indicações ao Globo de Ouro por sua atuação como Jeannie.
Larry Hagman interpretou o personagem Anthony Nelson, o militar responsável por libertar Jeannie e que acaba se apaixonando por ela. A química entre Hagman e Eden em cena foi muito elogiada, e Hagman logo após o fim de Jeannie é um Gênio, recebeu uma proposta para estrelar a novela americana Dallas, uma das mais famosas produções da história do país.
A série marcou época e permaneceu na memória afetiva de muitos fãs. Mesmo após tantos anos, os personagens e as interpretações do elenco continuam a ser lembrados e admirados pelos telespectadores.
A Mulher-Maravilha
A Mulher-Maravilha nasceu nas histórias em quadrinhos de 1942. A ideia foi alegrar os homens com uma personagem com roupas sensuais e, ao mesmo tempo, presentear o público feminino com uma heroína. A Mulher-Maravilha representava a mulher que estava liberta das amarras da sociedade. William Moulton, feminista e criador da personagem, acreditava que nos anos 1940 uma mulher estava mais apta ao cargo da presidência do país do que um homem.
A primeira temporada, exibida em 1976, foi baseada nas histórias em quadrinhos, com a personagem lutando contra os nazistas. Diana Prince aparecia em uniformes militares, cabelos presos em coques e óculos enormes, sugerindo uma imagem pouco atrativa para os homens. Essa era a estratégia da Mulher-Maravilha para não ser identificada.
A partir da segunda temporada, Diana se transformou em uma bonita mulher que atuava como agente secreto. Com isso, ao longo da série, a personagem da Mulher-Maravilha tornou-se desnecessária para a história. Em alguns episódios, Diana poucas vezes se transformou na heroína. O seriado mostrou a modificação de uma personagem insegura, que precisou aprender a viver no universo masculino, em uma mulher segura de suas decisões. Ela é uma das heroínas da TV mais relembradas.
As Panteras
Em 1976, quando o seriado entrou no ar, produções como a Mulher Biônica e a Mulher-Maravilha já eram sucesso e conhecidas como as heroínas da TV. As Charlie’s Angels, como são conhecidas, foram pioneiras em mostrar três heroínas juntas em missões que eram destinadas, geralmente, aos homens. Outra inovação trazida pelo escritor da série Aaron Spelling, foi mostrar o lado glamouroso e superficial das histórias policiais. Os gastos com figurino, maquiagem e penteado das atrizes chegaram a consumir 345 mil dólares por episódio.
A valorização da elegância feminina expôs um novo potencial econômico. As Panteras exploraram o espaço da mídia para criar modismo e foram as primeiras a mostrar que o mundo da moda pode ser uma estratégia rentável para as produções das séries.Anos mais tarde, esta receita foi adotada tanto por Sex and the City como por Gossip Girl.