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O filme estreia no dia 7 de novembro nos cinemas

Ainda Estou Aqui é uma história que precisava ser contada, especialmente para o Brasil. O filme, dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, ganhou notoriedade internacional após sua aclamada exibição no Festival de Veneza, onde conquistou o prêmio de Melhor Roteiro (Murilo Hauser e Heitor Lorega). Desde então, os rumores de uma indicação ao Oscar começaram a circular, com muitos acreditando que, desta vez, o Brasil sairá da cerimônia com a tão sonhada estatueta.

É evidente que essa conquista seria um marco significativo para o país, especialmente 25 anos após o sucesso de Central do Brasil. No início do próximo ano, estaremos todos torcendo para que isso aconteça. No entanto, Ainda Estou Aqui vai além da premiação: é um importante alerta sobre o que aconteceu com os brasileiros que tiveram sua liberdade e seus direitos civis brutalmente suprimidos durante a ditadura militar.

Baseado em fatos reais, o longa-metragem narra a trágica história do desaparecimento de Rubens Paiva, engenheiro civil e político, que foi torturado e assassinado em 1971, durante o regime militar. Sua morte só foi confirmada 40 anos depois, através da Comissão Nacional da Verdade. No entanto, o filme não foca diretamente em Rubens, mas sim em sua família, especialmente em sua esposa, Eunice, que precisa encontrar forças para seguir em frente com seus cinco filhos. O roteiro é inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens, que também é autor da aclamada obra Feliz Ano Velho (1982).

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Na primeira parte do filme, o espectador é imerso em uma casa ampla e alegre no Rio de Janeiro, conhecendo uma família repleta de felicidade. Rubens e Eunice são um casal caloroso, que adora receber amigos, e pais dedicados e afetuosos. A interpretação de Selton Mello ilumina o ambiente, trazendo uma vivacidade que se esvai drasticamente — e propositalmente — a partir do momento em que Rubens é preso e retirado da trama. Walter Salles usa a subtração para atingir a essência de Ainda Estou Aqui. A música para, a luz diminui, e os diálogos se tornam mais curtos à medida que Eunice se dá conta de que seu marido nunca mais voltará. Isso cria uma cumplicidade entre o espectador e os personagens, oferecendo uma visão muito honesta e intimista do que está sendo retratado.

Um aspecto interessante do filme é a escolha de fornecer informações mínimas sobre a prisão de Rubens e o contexto político da época. Não espere uma explicação detalhada dos acontecimentos históricos — essa ausência é intencional. A família Paiva se torna um microcosmo de um Brasil que foi privado de sua promessa de um futuro melhor. Apesar de ser um passado distante, os ecos desse período ressoam até hoje. Além disso, diferente do que se vê em outros filmes sobre ditaduras, os agentes da repressão não são retratados como violentos. Muito pelo contrário, o autor chegou a afirmar que eles eram surpreendentemente gentis dentro de sua casa, o que faz a situação ainda mais perturbadora, quase tão impactante quanto uma cena explícita de violência.

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A atuação de Fernanda Torres é excepcional. Mais do que descrever, é preciso presenciar sua performance. A atriz abraça a complexidade de Eunice, uma mulher que, mesmo diante de uma tragédia imensurável, encontrou forças para transformar sua vida e a de seus filhos. Eunice formou-se em Direito, desempenhou um papel crucial na redemocratização do Brasil e é uma das primeiras especialistas em direito indígena. O filme retrata suas difíceis escolhas ao tentar proteger os filhos de tanta crueldade. É comovente ver o quanto ela se silenciou para preservar a inocência de seus filhos, permitindo que cada um lidasse com a perda do pai à sua própria maneira.

Ainda Estou Aqui é um filme que celebra a resistência de uma família por meio do amor e do afeto. Independentemente de crenças políticas ou religiosas, é impossível não reconhecer a injustiça cometida contra pessoas que não mereciam tal destino. O longa toca cada espectador de forma humana e honesta, e o sorriso da protagonista se torna um símbolo da escolha pela liberdade.

Com todo esse potencial, a estatueta do Oscar será apenas uma consequência natural de uma produção brilhante. No entanto, nós, brasileiros, já somos os verdadeiros vencedores por compartilhar essa história com o mundo.

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