Série do Apple TV+ também é protagonizada por Cush Jumbo
Séries de policiais corruptos, que burlam o sistema judicial, não costumam atrair grande atenção na TV. Talvez, pelo fato que o assunto já esteja muito presente em nossa realidade. Mas Histórico Criminal, o novo drama que estreia no Apple TV+, promete ir além dos esteriótipos.
Para começar, os protagonistas são o vencedor do Oscar Peter Capaldi, muito conhecido por Doctor Who, e Cush Jumbo (The Good Wife). A combinação promete prender a atenção do público na tela.
Na história, um telefonema anônimo leva dois detetives brilhantes a um confronto sobre um antigo caso de assassinato, que envolve uma mulher jovem no início de carreira e homem bem relacionado e determinado a proteger seu legado. June Lenker (Cush) tenta desvendar o real culpado de um crime que aconteceu anos atrás. Enquanto Daniel (Peter), agora comandante de sua delegacia, tenta acobertar uma série de pré-julgamentos e provas plantadas no processo. Mas será que o culpado é realmente o mesmo homem que foi preso?
O embate entre os personagens acontece em uma Londres moderna, sombria. No entanto, a realidade é muito adaptada ao mundo todo, principalmente ao Brasil. O roteiro toca em injustiça, racismo e desigualdade social.
O Pop Séries conversou com o elenco e produtores de Histórico Criminal, que revelaram mais do que esperar deste drama complexo.
POP SÉRIES – June é uma personagem forte, uma mãe, uma policial que está tentando buscar justiça. Como você vê a jornada da personagem durante a série? E você acha que é importante ter mulheres fortes na ficção?
CUSH JUMBO – Sim, acho que ela não sabe. Ela não faz ideia de que entrará em contato com alguém como Daniel. E quando isso acontece, há uma espécie de reação química que ocorre nela. Ela sente que há algo aqui que não está certo e, então, começa uma jornada da qual quase sente que está fora de controle, como se tivesse que descobrir qual é a verdade. Acho que é, obviamente, muito importante ter mulheres fortes na televisão e na ficção, mas acho que o termo é usado como se fosse uma coisa fácil de ser ou de inserir. Acho que, para ser forte, você precisa ter uma enorme vulnerabilidade e precisa ser alguém que esteja disposto a ser vulnerável para que as coisas aconteçam com você. É isso que a torna forte, sua capacidade de ir além de seus limites e, às vezes, falhar e, às vezes, enfrentar conflitos.
* Peter, adoro seu trabalho, mas foi difícil entender o Daniel. Como foi interpretar um personagem que, até o último episódio, lutou para aceitar sua escolha? Você acha que ele encontrou a redenção no final?
PETER CAPALDI – Redenção é uma palavra importante. Acho que ele é um homem que já viu o melhor e o pior das pessoas e precisa encontrar uma maneira de colocar um pé na frente do outro, de passar pela vida. Às vezes, ele pode ajudar e, às vezes, não. A história de ninguém está terminada, então não posso dizer se ele encontrará a redenção, porque não sei.
* A série trata de temas universais, como violência doméstica e injustiça. Você acha que essa série pode ter um impacto sobre o público de outros países, como o Brasil?
PC – Acho que sim, porque acho que a maior parte do policiamento é a mesma. São os mesmos crimes com os quais as pessoas têm de lidar. E também essas coisas feias, como abuso doméstico, racismo e misoginia são, infelizmente, muito comuns em todo o mundo. Portanto, não acho que haja algo desconhecido para o público resiliente nesse assunto.
CJ – Mesmo quando estávamos montando os roteiros e filmando, uma das melhores coisas foi a quantidade de discussão que isso causou que isso causou entre nós. Foi um microcosmo, espero, de como as pessoas receberão o programa. As coisas são complexas. Não há nada que seja preto no branco, e é por isso que não podemos nos polarizar em relação a nenhuma dessas questões. Precisamos falar sobre os aspectos intermediários que criam as coisas que existem agora.
*As mulheres são a voz da justiça em Histórico Criminal. Há uma mãe, uma advogada e uma detetive que trabalham juntas. Desde o início, você pensou em colocar mulheres fortes na trama? Qual foi a importância disso?
ELAINE COLLINS – Eu diria que é incrivelmente importante. É importante para mim, como mulher e produtora, ter sempre vozes femininas fortes. Paul e eu, originalmente dos romances de Anne Cleeves, criamos uma série chamada Vera, estrelada por Brenda Blethyn. Acho que o Paul, nem todos os homens escrevem grandes mulheres, e nem todos os homens escrevem grandes mulheres fortes, mas Paul sempre o fez. Isso é natural para ele. Acho que nem tivemos que ter essa conversa. Seu caráter simplesmente transbordou.
PAUL RUTMAN – Acho engraçado porque acho que é uma pergunta muito boa. Eu adoro escrever. Sempre me sinto ansioso ao falar sobre escrever mulheres fortes, porque acho que todas as mulheres são fortes. Sim, eu sei. Porque acho que há algo… Sinto que há algo ligeiramente paternalista nisso. June é corajosa e brilhantemente inteligente. Ela tem muitas dúvidas sobre si mesma. Acho que esse é o superpoder dela, suas dúvidas. Ela duvida de si mesma como mãe, duvida de si mesma como detetive, duvida de si mesma como parceira. Ela não se sente à vontade com seus colegas. Mas acho que nunca tive a intenção de estabelecer uma linha muito clara entre homem e mulher na série. Mas suponho que haja essa sensação de que, no centro dela, está a voz de uma mulher em uma ligação telefônica. Isso, para mim, foi o primeiro fósforo da história. Foi assim que tudo começou. A ideia da voz dessa mulher ao telefone, sem que vejamos seu rosto e tudo o mais. Então, estamos apenas tentando protegê-la. Acho que ainda me emociona pensar nisso. Acho que me peguei tentando criar uma série de mulheres em torno dela que, penso eu, estão tentando protegê-la e levá-la a um lugar seguro.
EC – E vemos os personagens como pessoas, não apenas como homens e mulheres.
PR – Eu tinha plena consciência de que estava escrevendo personagens que, mais tarde, poderiam ter opiniões bastante tóxicas. Eu estava tentando encontrar uma maneira de mantê-los humanos, de não julgá-los com muita severidade, porque acho que temos muito disso em nossa cultura atualmente. Há muitas pessoas atirando pedras umas nas outras. Acho que é esse o sentido de sempre escrever, mas também, penso eu, de assistir a programas, de tentar se imaginar na experiência de outras pessoas, tentar imaginar e tentar humanizar a visão de mundo de alguém, mesmo que seja uma visão de mundo da qual eu não goste particularmente.