Em tempos modernos, parece impossível contar um história da Segunda Guerra Mundial ainda não conhecida pelo público – ainda mais quando ela é ambientada na América. O Brutalista tem como missão apresentar a jornada ficcional de um renomado arquiteto húngaro, enquanto propõe uma abordagem ambiciosa para um longa-metragem de mais de três horas de duração. Não é a toa que a produção concorre ao Oscar de melhor filme.
Na história, o arquiteto visionário László Toth (Adrien Brody) chega aos EUA para reconstruir sua vida, após sobreviver a perseguição de Hitler. Ele é forçado a abandonar o trabalho que tanto amava e também a esposa Erzsébet, de quem foi separado contra a sua vontade pelo regime. Sozinho em um novo país culturamente diverso, László encontrar um lar na Pensilvânia, e passa a trabalhar para o rico industrial Harrison Lee Van Buren que reconhece seu talento inovador para construção.
O Brutalista é inspirado em uma história real?
Aqui o protagonista é uma invenção dos escritores. Ele estudou na escola de arte Bauhaus e, por isso, segue a linha modernista e brutalista em suas criações. Na arte, o movimento é de ruptura e utilizava concreto inacabado em seus projetos audaciosos e de linhas retas. Mas o filme em si não somente um manifesto artístico, mas um drama de sobrevivência que de certa forma sintetiza os desafios da população judia que foi segregada e em diversas partes do mundo com o Holocausto.
László é um símbolo de resistência do imigrante, que de certa forma moldou os EUA. Ao mesmo tempo, é um estrangeiro em uma terra que não o acolhe, mesmo que sua esposa e sobrinha o encontre lá. Mesmo que existam sinagogas, mesmo que seu trabalho volta a ser reconhecido. É um povo sem pátria, até que ocorre a fundação de Israel.
Atormentado pelas experiências mais horríveis que um ser humano poderia passar, László vê no centro cultura que desenvolve ao seu patrocinador uma forma de canalizar todo o seu sentimento. A criação, no entanto, começa a tomar proporções traumáticas e o personagem passa a sofrer com o seu desenvolvimento – em uma relação clássica entre criador e criatura.

A esposa de László, Erzsébet (interpretada por Felicity Jones), também tenta se adaptar a nova vida. Mesmo com sequelas físicas do tempo de perseguição, a personagem ainda encontra um trabalho como jornalista de uma revista local e parece se adaptar ao novo país. No entanto, conforme a criação do marido passa a atormentá-lo cada vez mais, ela percebe que de fato vive em uma sociedade doente e que claramente eles não são bem-vindos, somente tolerados. Somado a isso, mais um trauma na vida do arquiteto faz com que eles tomem uma decisão sobre os seus destinos.
O Brutalista é extremamente pertinente ao cenário atual, se o assunto em pauta for político, mas como obra cinematográfica vai mais além. O diretor Brady Corbet sabia dos desafios de propor aos estúdios a ideia de um projeto praticamente não comercial, com constrastes variados e um olhar inovador para momento da história mundial tão traumatizante. Tudo aqui é brutal, concreto e rígido – tal sentimento é transmitido com maestria com o seu olha por trás das câmera. O desenvolvimento do drama levou sete anos para acontecer, e para acontecer, o diretor consultou Jean-Louis Cohen, um historiador de arquitetura e autor de livros como Architecture in Uniform que faleceu em 2023.
Sem Emilia Pérez na parada, o maior concorrente de O Brutalista no momento na corrida ao Oscar é Conclave. E com a divulgação que o filme teria utilizado inteligência artificial na produção de o seu roteiro as suas chances foram consideravelmente impactadas. Acredito que Adrien Brody, que já foi reconhecido como melhor ator por seu trabalho em O Pianista (2003), outro drama sobre o Holocausto, irá repetir o feio. Será muito difícil outro nome desbancar o ator nesta corrida pela estatueta.