Quase todo morador da América Latina tem alguma lembrança relacionada ao universo do Chaves. Muito popular entre as crianças da década de 1980, o programa mexicano tinha como foco um garoto órfão que morava em um barril numa pequena vila, habitada por personagens peculiares.
Mesmo que sua história fosse trágica, Chaves não tinha tristeza em sua vida e aprontava poucas e boas com os amigos Chiquinha, Quico e Nhonho. Também tinha um convívio único com os adultos, principalmente com ranzinza Senhor Madruga.
Só que por trás programa de sucesso diversas polêmicas permearam os bastidores. Chespirito: Sem Querer Querendo, nova série da HBO, tem como missão explorar a trajetória de Roberto Gómez Bolaños (papel de Pablo Cruz Guerrero), o criador de Chaves e Chapolin Colorado. A produção de oito episódios retrata a trajetória do roteirista desde a infância até os anos de maior destaque na carreira, entre as décadas de 1950 e 1980, explorando os caminhos que o conduziram ao sucesso na televisão, os desafios enfrentados ao longo da jornada e as consequências de suas decisões pessoais e profissionais.
Durante coletiva de imprensa com os atores, o filho de Roberto Bolaños, Roberto Gómez Fernández, disse que a produção levou cerca de seis anos para ser concluída. “É o Roberto que nós conhecemos em muitos aspectos, mas também há pessoas que o respeitam e o amam, principalmente, o que era algo que meu pai gostava muito — quando havia manifestações não só de admiração, mas de carinho. Temos uma responsabilidade com essas pessoas. Existem fãs por toda a América Latina que conhecem mais sobre a vida profissional do meu pai do que a própria família. Por isso, era necessário um certo rigor nos acontecimentos. Claro, há uma dose de ficção, como em toda série biográfica, mas também havia uma dose de rigor. Um dos elementos mais complexos desse rigor foi o elenco. Foram mais de dois anos de processo. E agora que os vejo juntos novamente — fazia tempo que não os via assim — pensei: que bom que demoramos esses dois anos, porque o resultado é insuperável.”
Mas não há Chaves sem Chiquinha. Paola Montes de Oca contou como a sua preparação para viver María Antonieta de las Nieves: “Um enorme privilégio que tive foi o fato de que, graças à produção, pude conhecer María Antonieta. Então, a gente pode conversar por horas, ela me deu dicas de como falava, por exemplo, da choradeira da Chiquinha, do clássico. Eu sabia que isso era um grande compromisso e uma grande responsabilidade e estava com muito medo no começo, muito nervosa de não fazer direito, de que alguma coisa desse errado.”
Já Juan Lecanda, que faz o ator de Quico, não contou com a possibilidade de conversar com a inspiração do personagem. “No meu caso, o Quico e o Carlos Villagrán são muito diferentes um do outro. Então, tentando preencher com todas essas entrevistas, vídeos e assim por diante, essas duas partes, para criar algo que, modéstia à parte, acho que foi um trabalho muito bom de todos os nossos colegas. Queria pedir para pessoas assistirem à série sem preconceitos, que se deixem levar por essa história cheia de amor, ternura e nostalgia.”
O elenco é composto por Paulina Dávila como Graciela Fernández, Bárbara López como Margarita Ruíz (Dona Florinda), Arturo Barba como Rubén Aguirre (Professor Girafales), Andrea Noli como Angelines Fernández (Bruxa do 71), Miguel Islas como Ramón Valdés (Seu Madruga), Eugenio Bartilotti como Edgar Vivar (Senhor Barriga e Nhonho), Karina Gidi como Elsa Bolaños, Rolando Breme como Mariano Casasola e Jorge Luis Moreno como Horacio Gómez.
Polêmica nos bastidores de Chaves
Mesmo com oito temporadas e um grande sucesso, Chaves enfrentou muitos conflitos nos bastidores. María Antonieta travou uma longa batalha judicial pelos direitos da personagem Chiquinha. Em 1995, conseguiu registrar a personagem em seu nome, alegando que havia criado a caracterização e personalidade da Chiquinha. Roberto Gómez Bolaños, criador do programa, contestou o registro, afirmando ser o autor da personagem. A disputa se estendeu por mais de uma década, culminando em uma decisão judicial que concedeu a María Antonieta os direitos da personagem.
Carlos Villagrán, intérprete do Quico, deixou o elenco de Chaves em 1979 após desentendimentos com Bolaños. Inicialmente, Villagrán afirmou que saiu para seguir carreira solo, mas posteriormente alegou que foi afastado devido ao sucesso de seu personagem, que teria causado inveja em Bolaños e outros membros do elenco. Ele também tentou conseguir o direito de uso do personagem na justiça, mas perdeu a disputa.
Após a morte de Roberto Gómez Bolaños em 2014, sua viúva, Florinda Meza (a intérprete de Dona Florinda), tornou-se a representante legal de seu legado. Em 2020, os programas Chaves e Chapolin foram retirados do ar devido a impasses contratuais entre a Televisa e os herdeiros de Bolaños. Florinda afirmou que não participou das negociações e que está envolvida em uma batalha legal para que a vontade de seu marido seja respeitada e os programas retornem à televisão. A atriz também não apoiou a produção Chesperito: Sem Querer Querendo e não está envolvida no projeto.
Confira o trailer de Chespirito: Sem Querer Querendo:
